Como vocês já devem ter percebido, este blog tem um curiosidade quase obsessiva pelos músicos estrangeiros que se dedicam à música brasileira. É interessante ver como, na música, as relações entre centro e periferia ficam bem mais complexas do que em outras artes; e mais interessante ainda, como a música brasileira ganha, em algumas cenas, o status de mainstream mesmo.
Foi isso que me levou a comprar, no escuro escuríssimo, “Candeias”, o disco de estréia de um grupo de jazz americano que se batizou Com Você, assim mesmo, em português. Mais um detalhe da salada multi-cultural: a produção é do Nocturne um pequeno selo independente… italiano.
Pelo repertório - “O barquinho”, “Vivo sonhando”, “Desafinado” - esperava mais uma re-cozinha de bossa nova, com ou sem as cada vez mais presentes batidas eletrônicas. Mas o disco é surpreendente por apresentar versões jazzísticas, no melhor sentido do termo, destrinchando cada tema em detalhes, conseguindo novidade do déjà ouvi.
Maggie Grebowicz tem voz pequena e afinada e seu português é mais charmoso do que rico musicalmente. Mas o interessante da moça é que ela assina os arranjos, todos, sem exceção, excelentes, demonstrando uma compreensão real do que está fazendo.
Algumas versões são realmente impressionantes, como um acelerado “Coração vagabundo” e a “Candeias” do título, lenta, digerida, transformada nesmo. Para resumir, é música de verdade e não mais uma modinha brazuca.
Na página do grupo, dá para experimentar alguma coisa. Vai lá. [3 comentários]Publicado por Paulo Roberto Pires - 26/04/07 2:26 PM
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O banda do eu sozinho
A separação,temporária ou não, dos Los Hermanos é em alguma medida inesperada mas muito pouco surpreendente. Levanta aquela velha, velhíssima questão: até quando e até que ponto música é uma criação coletiva que pode se perpetuar desta forma.
Vamos nos poupar dos clichês de exemplos e contra-exemplos de bandas que resistiram bem e mal ao tempo. Mas viver junto, criar junto, é mesmo muito difícil. E no caso dos Hermanos, o que ilustra melhor esta dificuldade e este desafio são os quatro discos que lançaram entre 1999 e 2005.
Em disco, o caminho da banda é balizado no início pelo megahit “Ana Julia” e, mais recentemente, pelas canções inclassificáveis de “4″, álbum que não deixou ninguém indiferente, chegando mesmo a desagradar muito fã de carteirinha.
Defender que, nestes anos, os Hemanos ficaram “difíceis” é superficializar demais a discussão. Mas eu fico mesmo me perguntando o que quatro músicos jovens e talentosos podem contiuar a fazer juntos depois de um disco admirável como “Bloco do eu sozinho”(2001). É como se ali todos eles tivessem chegado a um ponto ótimo, o mais próximo que se poderia esperar da perfeição.
“Ventura” é bom? É, e muito. Do “4″ eu também gosto bastante, mas o esgarçamento formal desse último disco já mostrava mesmo que cada uma estava indo para um lado, que radicalização, como ensinou o Hélio Oiticica, é assim mesmo: gera revolução ou ruptura.
Quem já foi a um show dos Hermanos sabe o que eles conseguiram nestes anos: um público imenso, cantando em uníssono, reverencial, às vezes meio exagerado e caricato na sua devoção. E essa é uma “obra” e tanto, que vai ser vista nos dias 8 e 9 de junho na Fundição Progresso, talvez pela última vez.
A partir de agora estão na estrada (boa sorte para vocês) Bruno Medina, Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante e Rodrigo Barba. Alguém falou em bloco do eu sozinho? É, não há mesmo nenhuma surpresa nesta separação, só a lógica inexorável de quem não se aquietou com o sucesso.
Foi isso que me levou a comprar, no escuro escuríssimo, “Candeias”, o disco de estréia de um grupo de jazz americano que se batizou Com Você, assim mesmo, em português. Mais um detalhe da salada multi-cultural: a produção é do Nocturne um pequeno selo independente… italiano.
Pelo repertório - “O barquinho”, “Vivo sonhando”, “Desafinado” - esperava mais uma re-cozinha de bossa nova, com ou sem as cada vez mais presentes batidas eletrônicas. Mas o disco é surpreendente por apresentar versões jazzísticas, no melhor sentido do termo, destrinchando cada tema em detalhes, conseguindo novidade do déjà ouvi.
Maggie Grebowicz tem voz pequena e afinada e seu português é mais charmoso do que rico musicalmente. Mas o interessante da moça é que ela assina os arranjos, todos, sem exceção, excelentes, demonstrando uma compreensão real do que está fazendo.
Algumas versões são realmente impressionantes, como um acelerado “Coração vagabundo” e a “Candeias” do título, lenta, digerida, transformada nesmo. Para resumir, é música de verdade e não mais uma modinha brazuca.
Na página do grupo, dá para experimentar alguma coisa. Vai lá. [3 comentários]Publicado por Paulo Roberto Pires - 26/04/07 2:26 PM
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O banda do eu sozinho
A separação,temporária ou não, dos Los Hermanos é em alguma medida inesperada mas muito pouco surpreendente. Levanta aquela velha, velhíssima questão: até quando e até que ponto música é uma criação coletiva que pode se perpetuar desta forma.
Vamos nos poupar dos clichês de exemplos e contra-exemplos de bandas que resistiram bem e mal ao tempo. Mas viver junto, criar junto, é mesmo muito difícil. E no caso dos Hermanos, o que ilustra melhor esta dificuldade e este desafio são os quatro discos que lançaram entre 1999 e 2005.
Em disco, o caminho da banda é balizado no início pelo megahit “Ana Julia” e, mais recentemente, pelas canções inclassificáveis de “4″, álbum que não deixou ninguém indiferente, chegando mesmo a desagradar muito fã de carteirinha.
Defender que, nestes anos, os Hemanos ficaram “difíceis” é superficializar demais a discussão. Mas eu fico mesmo me perguntando o que quatro músicos jovens e talentosos podem contiuar a fazer juntos depois de um disco admirável como “Bloco do eu sozinho”(2001). É como se ali todos eles tivessem chegado a um ponto ótimo, o mais próximo que se poderia esperar da perfeição.
“Ventura” é bom? É, e muito. Do “4″ eu também gosto bastante, mas o esgarçamento formal desse último disco já mostrava mesmo que cada uma estava indo para um lado, que radicalização, como ensinou o Hélio Oiticica, é assim mesmo: gera revolução ou ruptura.
Quem já foi a um show dos Hermanos sabe o que eles conseguiram nestes anos: um público imenso, cantando em uníssono, reverencial, às vezes meio exagerado e caricato na sua devoção. E essa é uma “obra” e tanto, que vai ser vista nos dias 8 e 9 de junho na Fundição Progresso, talvez pela última vez.
A partir de agora estão na estrada (boa sorte para vocês) Bruno Medina, Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante e Rodrigo Barba. Alguém falou em bloco do eu sozinho? É, não há mesmo nenhuma surpresa nesta separação, só a lógica inexorável de quem não se aquietou com o sucesso.
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