30.1.07

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,

Que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.

Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,

Não cantaremos o ódio porque esse não existe,

Existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,

O medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,

O medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas.

Cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,

Cantaremos o medo da morte e de depois da morte,

Depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos

Nascerão flores amarelas e medrosas!

Carlos Drummond de Andrade

Aqui estou, de novo, recomendando que todos visitem www.carosamigos.com.br
- o site desta revista é demais. Só vendo pra crer. Visite e avise os amigos.

26.1.07

BEN HARPER...Assista a esse vídeo que eu chupei do YOUTUBE.
Será que ele é mesmo o "novo" JIMI HENDRIX???


http://www.youtube.com/watch?v=PeN23ioEhT8
DISCOTECA BÁSICA - Os Mutantes
matéria publicada originalmente na BIZZ n. 10, em maio de 1986 ##

A conhecida "falta de memória nacional" nada mais é do que a falta de disposição, compreensão e competência das instituições - desde o governo até a imprensa especializada - em apoiar a produção e a preservação da cultura brasileira. Não é à toa que muita gente busca no rock americano ou inglês a sua fonte única de inspiração e conhecimento, enquanto as pérolas da MPB permanecem no esquecimento.
"Que pérolas?", pergunta o leitor, atarantado. Pois é. A MPB está na pior - não temos qualquer música vital, forte ou espirituosa. Mas há vinte anos não era assim. Houve a bossa nova, a tropicália (anote aí: "bossa nova" não é uma invenção da vanguarda londrina), coisas que poderiam dar um forte impulso ao rock nacional, em sua busca de identidade. Realmente, não é justo que só a tal "geração AI-5" tenha conhecido o primeiro LP dos Mutantes, lançado em 68... eis as pérolas!
Pelo ineditismo para a época e pelo seu distanciamento dos clichês roqueiros, este pode ser considerado o melhor disco do grupo (sem menosprezar os posteriores, Os Mutantes, de 69, e A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, 70). Rita Lee, Arnaldo e Serginho Baptista faziam música, está na cara, pelo puro barato de criar, de se divertir. Assim como outras obras-primas da tropicália, este disco contou com o auxílio do George Martin (Nota: produtor dos Beatles) brasileiro, Rogério Duprat. Sintetizar orquestralmente as idéias lisérgicas que os Mutantes simplesmente jorravam não deve ter sido fácil, mas com certeza Duprat curtiu adoidado.
Vejam só: o disco abre com "Panis et Circensis", de Caetano e Gil. De repente a música se interrompe como se alguém tivesse tropeçado no fio do toca-discos; em seguida ela continua para acabar em meio a ruídos de sala de jantar, com talheres e conversas familiares. Tudo isso com orquestração digna de aberturas wagnerianas. Depois vem "Minha Menina" (Jorge Ben) e "O Relógio", de autoria do grupo, um dos grandes momentos deste lado, graças à estranheza do contraste entre a melodia leve e o non-sense da letra (o relógio parou/ desistiu para sempre de ser antimagnético, 22 rubis/ eu dei corda e pensei/ que o relógio iria viver/ pra dizer a hora de você chegar).
"Maria Fulô", de Leonel de Azevedo e José de Sá Roris, cai num clima de quilombo, com marimbas, Kalimbas e cuícas no maior samba. "Baby", de Caetano, é cantada (imaginem só) por Arnaldo. A última faixa do lado A é "Senhor F" (O senhor F/ vive a querer/ ser senhor X/ mas tem medo/ de nunca voltar/ a ser senhor F outra vez), mais uma pérola de autoria do grupo, com arranjo inspirado (assim como outros momentos desde LP) em coisas do Sargeant Peppers dos Beatles.
O lado B abre com "Bat Macumba" e segue com Rita cantando, à la Françoise Hardy, o clássico francês "Le Premier Bonheur du Jour". "Trem Fantasma", Mutantes em parceria com Caetano, destaca uma bela combinação de vozes com metais. "Tempo no Tempo", versão de uma música dos Mamas & the Pappas, tem um solo de carrilhão no final, e "Ave Gencis Khan" (sic) encerra o disco num pique de George Harrison, com fortes toques orientais.
É isso aí. De resto, só mesmo ouvindo. Os climas mudam, de faixa para faixa, da água para o vinho. Sem nenhum preconceito, os Mutantes fizeram uma viagem psicodélica pela música universal, bastante influenciados pelos Beatles e auxiliados pelas partituras mágicas de Rogério Duprat. É um disco de MPB, tratado com o espírito efervescente da época, o espírito de libertação das formas e padrões. Por isso é um disco que os roqueiros brasileiros devem conhecer. Junte-se ao coro dos que exigem o relançamento dos LPs dos Mutantes. "Tem que dar certo..."
A conhecida "falta de memória nacional" nada mais é do que a falta de disposição, compreensão e competência das instituições - desde o governo até a imprensa especializada - em apoiar a produção e a preservação da cultura brasileira. Não é à toa que muita gente busca no rock americano ou inglês a sua fonte única de inspiração e conhecimento, enquanto as pérolas da MPB permanecem no esquecimento.
"Que pérolas?", pergunta o leitor, atarantado. Pois é. A MPB está na pior - não temos qualquer música vital, forte ou espirituosa. Mas há vinte anos não era assim. Houve a bossa nova, a tropicália (anote aí: "bossa nova" não é uma invenção da vanguarda londrina), coisas que poderiam dar um forte impulso ao rock nacional, em sua busca de identidade. Realmente, não é justo que só a tal "geração AI-5" tenha conhecido o primeiro LP dos Mutantes, lançado em 68... eis as pérolas!
Pelo ineditismo para a época e pelo seu distanciamento dos clichês roqueiros, este pode ser considerado o melhor disco do grupo (sem menosprezar os posteriores, Os Mutantes, de 69, e A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado, 70). Rita Lee, Arnaldo e Serginho Baptista faziam música, está na cara, pelo puro barato de criar, de se divertir. Assim como outras obras-primas da tropicália, este disco contou com o auxílio do George Martin (Nota: produtor dos Beatles) brasileiro, Rogério Duprat. Sintetizar orquestralmente as idéias lisérgicas que os Mutantes simplesmente jorravam não deve ter sido fácil, mas com certeza Duprat curtiu adoidado.
Vejam só: o disco abre com "Panis et Circensis", de Caetano e Gil. De repente a música se interrompe como se alguém tivesse tropeçado no fio do toca-discos; em seguida ela continua para acabar em meio a ruídos de sala de jantar, com talheres e conversas familiares. Tudo isso com orquestração digna de aberturas wagnerianas.
Depois vem "Minha Menina" (Jorge Ben) e "O Relógio", de autoria do grupo, um dos grandes momentos deste lado, graças à estranheza do contraste entre a melodia leve e o non-sense da letra (o relógio parou/ desistiu para sempre de ser antimagnético, 22 rubis/ eu dei corda e pensei/ que o relógio iria viver/ pra dizer a hora de você chegar).
"Maria Fulô", de Leonel de Azevedo e José de Sá Roris, cai num clima de quilombo, com marimbas, Kalimbas e cuícas no maior samba. "Baby", de Caetano, é cantada (imaginem só) por Arnaldo. A última faixa do lado A é "Senhor F" (O senhor F/ vive a querer/ ser senhor X/ mas tem medo/ de nunca voltar/ a ser senhor F outra vez), mais uma pérola de autoria do grupo, com arranjo inspirado (assim como outros momentos desde LP) em coisas do Sargeant Peppers dos Beatles.
O lado B abre com "Bat Macumba" e segue com Rita cantando, à la Françoise Hardy, o clássico francês "Le Premier Bonheur du Jour". "Trem Fantasma", Mutantes em parceria com Caetano, destaca uma bela combinação de vozes com metais. "Tempo no Tempo", versão de uma música dos Mamas & the Pappas, tem um solo de carrilhão no final, e "Ave Gencis Khan" (sic) encerra o disco num pique de George Harrison, com fortes toques orientais.
É isso aí. De resto, só mesmo ouvindo. Os climas mudam, de faixa para faixa, da água para o vinho. Sem nenhum preconceito, os Mutantes fizeram uma viagem psicodélica pela música universal, bastante influenciados pelos Beatles e auxiliados pelas partituras mágicas de Rogério Duprat. É um disco de MPB, tratado com o espírito efervescente da época, o espírito de libertação das formas e padrões. Por isso é um disco que os roqueiros brasileiros devem conhecer. Junte-se ao coro dos que exigem o relançamento dos LPs dos Mutantes. "Tem que dar certo..."

vAN hALEN

David Lee Roth de volta ao Van Halen
Se a banda se aturar, será uma turnê de 40 shows


Uma das discussões mais freqüentes e infindáveis entre roqueiros é se o Van Halen foi melhor com Sammy Hagar ou David Lee Roth como vocalista. Difícil resolver - o fato é que a técnica vai dar lugar ao espetáculo, já que depois de 22 anos Lee Roth está voltando ao Van Halen.
Segundo notícia divulgada pela Billboard, a banda está em vias de assinar um contrato com a empresa Live Nation para uma turnê com 40 shows, que deve começar por volta de agosto. Lee Roth deixou o grupo em 1985 para investir na carreira solo e foi substituído por Hagar, que ficou até 1996. No mesmo ano, no Video Music Awards da MTV, foi anunciado ao vivo o retorno de Lee Roth. Ainda nos bastidores da premiação o cantor se desentendeu com o guitarrista Eddie Van Halen - e a pseudo-reunião virou piada no dia seguinte.
Recentemente também foi
anunciado que Wolfgang Van Halen, filho adolescente de Eddie, substituirá o baixista e co-fundador Michael Anthony. Além deles, Alex Van Halen na bateria e Lee Roth nos vocais completam a formação da banda que sairá em turnê.
A última turnê do Van Halen foi em 2004, com Hagar nos vocais. Ao final da turnê, Hagar disse não suportar mais Eddie e Alex e deixou a banda de novo. Os shows renderam 40 milhões de dólares para o Van Halen.
Hagar e Anthony não estão parados - ao contrário, seguem juntos. Os músicos estão ensaiando com o baterista do Red Hot Chili Peppers, Chad Smith, e consideram a possibilidade de gravar um álbum do projeto, intitulado Chicken Foot.

O PERFUME...ATÉ QUE ENFIM...

LEIA O LIVRO...ASSISTA O FILME...COMPRE O CD!!!

Considerado por muito tempo infilmável, o best-seller 'Perfume', de Patrick Suskind, chega às telas nesta sexta-feira na forma de uma grande produção que se sai razoavelmente bem na difícil tarefa de mostrar o mundo dos odores e do olfato no cinema.

'Perfume -- História de um assassino', de Tom Tykwer, com orçamento estimado em mais de 60 milhões de dólares, traz a história movimentada de Jean-Baptiste Grenouille, um homem cujo olfato superaguçado faz com que ele se torne um assassino em série.

Grenouille, interpretado pelo novato Ben Whishaw, nasce num mercado de peixe em Paris em 1738. Sobrevive à tentativa de infanticídio por parte da mãe (que é executada por isso), às agressões dos colegas no orfanato e à infância marcada pelo trabalho infantil.

Seu único prazer é explorar Paris, principalmente com seu nariz, que tem uma capacidade singular de detectar nuances nos odores. Acaba chegando à casa de Baldini (Dustin Hoffman), um perfumista experiente que percebe a proeza do olfato do jovem e começa a cuidar dele, ensinando-lhe a arte de fazer óleos, essências e fragrâncias.

O rapaz começa a dar mostras de seu comportamento quando tenta destilar um gato. Antes, já havia matado uma moça sem querer, ao tentar mantê-la quieta, e descoberto os cheiros intoxicantes do corpo de uma mulher.

Ele vai para a cidade de Grasse, a capital mundial dos perfumes, e tem uma experiência mística, na qual percebe que seu corpo não tem um cheiro específico. O filme assume então o ritmo de um thriller, enquanto o protagonista tenta criar seu perfume final, uma junção de odores retirados das mulheres que ele persegue e mata.

O desfecho pode soar forçado, mas Tykwer só está seguindo a trama original do livro de 1985. A adaptação, num roteiro de Andrew Birkin e produzida por Bernd Eichinger, pode ser acusada de excesso de fidelidade. E certamente é longa demais, com quase duas horas e meia. Mas, apesar das falhas, o filme mantém a atenção, usando o poder das imagens para evocar os cheiros, seja de peixe estragado ou de rosas e campos de lavanda.

A narração de John Hurt é necessária nas primeiras cenas, mas se torna supérflua. O longa reproduz muito bem a atmosfera da França do século 18, e o elenco, na maioria inglês, tem boas atuações.

9.1.07





Com a licença do meu grande amigo Julinho (quem produziu as mesmas) aqui estou mostrando duas belas visões aéreas de minha singela cidade e hoje mais do que nunca, tanto eu como ele e tantos outros amigos com bens comuns, acreditamos...Se você quer ser universal, começe por sua cidade!
Hoje sempre lutaremos por isso.
FELIZ 2007 a todos!
Fred/verão/07
Com as mãos na felicidade 2007! mantra do ano

5.1.07

Todo plural é pouco
Pois você fez sol
Em meu viver.
Te vejo esculpida em vida,
Sua beleza de prata celeste
É muito para esse coração amante.
Amor, vida mor;
Amor se aprende no limite!
Assim... Não podia ocultar-me
Em meu grito surdo.
“AMAR”
Essa palavra que a vida alcança!
Desabo em uma vontade louca...
Ver você chegando;
Te quero pela semana afora
E além do tempo
Em seu esplendor.
Você está acima das estrelas,
És arte completa, paisagem inesquecível.
Nessa paixão que expande
Sua luz amorosa é magia;
Um bicho de pelúciaQue conforta-me
!
OLHA DUAS FRASES AÍ GENTE!!!

Ninguém ignora tudo.
Ninguém sabe tudo.
Por isso aprendemos sempre!
Paulo Freire

A MELHOR FORMA DE PROCURAR A FELICIDADE
É FAZER ALGUÉM FELIZ!
Fred

4.1.07

Conforme Paulo Bentancur (escritor e crítico)...

A boa literatura deve dizer as coisas mais terríveis!

Um livro ruim, por ser pretensioso - Avalovara de Osman Lins.

Um livro pior do que o filme baseado nele - O Iluminado de Stephen King.

Um livro meio chato, mas bom - A Montanha Mágica de Thomas Mann.

Um Livro difícil, mas indispensável - Ulisses de James Joyce.

Um Livro que frustrou as melhores expectativas - Estorvo de Chico Buarque.
Tem muita fabricação na sua prosa.
Inspirado em Luiz Fernando Veríssimo...

Testa de Ferro de 2006...Zidane
Encontros depois da morte menos imagináveis de 2006...Pinochet, Braguinha e James Brown.

Último alerta de 2006...O próximo ano termina em 007. Tem licença pra matar!
Quero que esse poema
Não fique no silêncio de livros
E sim bata forte em seu coração.
Quero que esse poema
Soe como uma sinfonia de letras
Em homenagem a você.
Ele em si se resume
E pra você se torna perfume.
Um poema, um desejo,
Um fim...
Aproximá-la de mim!



3.1.07

DEPOIS DA DEMISSÃO
Ex-repórter da Globo critica jornalismo da TV
Por Rodrigo Vianna em 20/12/2006

Publicado originalmente no Terra Magazine, 19/12/2006; intertítulos da Redação do OI
A TV Globo informa que Rodrigo Vianna encaminhou a mensagem após ter sido informado pela emissora de que seu contrato não seria renovado.
Quando cheguei à TV Globo, em 1995, eu tinha mais cabelo, mais esperança, e também mais ilusões. Perdi boa parte do primeiro e das últimas. A esperança diminuiu, mas sobrevive. Esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar – ainda que de forma modesta e pontual. Infelizmente, está difícil continuar cumprindo esse compromisso aqui na Globo. Por isso, estou indo embora.
Quando entrei na TV Globo, os amigos, os antigos colegas de Faculdade, diziam: "Você não vai agüentar nem um ano naquela TV que manipula eleições, fatos, cérebros". Agüentei doze anos. E vou dizer: costumava contar a meus amigos que na Globo fazíamos – sim – bom jornalismo. Havia, ao menos, um esforço nessa direção.
Na última década, em debates nas universidades, ou nas mesas de bar, a cada vez que me perguntavam sobre manipulação e controle político na Globo, eu costumava dizer: "Olha, isso é coisa do passado; esse tempo ficou pra trás".
Isso não era só um discurso. Acompanhei de perto a chegada de Evandro Carlos de Andrade ao comando da TV, e a tentativa dele de profissionalizar nosso trabalho. Jornalismo comunitário, cobertura política – da qual participei de 98 a 2006. Matérias didáticas sobre o voto, sobre a democracia. Cobertura factual das eleições, debates. Pode parecer bobagem, mas tive orgulho de participar desse momento de virada no Jornalismo da Globo.
Parecia uma virada. Infelizmente, a cobertura das eleições de 2006 mostrou que eu havia me iludido. O que vivemos aqui entre setembro e outubro de 2006 não foi ficção. Aconteceu.
Pode ser que algum chefe queira fazer abaixo-assinado para provar que não aconteceu. Mas, é ruim, hem!
Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "O fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto".
Tudo isso aconteceu. E nem foi o pior.
Na reta final do primeiro turno, os "aloprados do PT" aprontaram; e aloprados na chefia do jornalismo global botaram por terra anos de esforço para construir um novo tipo de trabalho aqui.
Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: "Por que não vamos repercutir a matéria da IstoÉ, mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira?"
Por que isso, por que aquilo... Nenhuma resposta convincente. E uma cobertura desastrosa. Será que acharam que ninguém ia perceber?
Quando, no JN, chamavam Gedimar e Valdebran de "petistas" e, ao mesmo tempo, falavam de Abel Pereira como empresário ligado a um ex-ministro do "governo anterior", acharam que ninguém ia achar estranho?
"A equipe ficou atônita"
Faltando seis dias para o primeiro turno, o "petista" Humberto Costa foi indiciado pela PF. No caso dos vampiros. O fato foi parar em manchete no JN, e isso era normal. O anormal é que, no mesmo dia, esconderam o nome de Platão, ex-assessor do ministério na época de Serra/Barjas Negri. Os chefes sabiam da existência de Platão, pediram a produtores pra checar tudo sobre ele, mas preferiram não dar. Que jornalismo é esse, que poupa e defende Platão, mas detesta Freud! Deve haver uma explicação psicanalítica para jornalismo tão seletivo!
Ah, sim, Freud. Elio Gaspari chegou a pedir desculpas em nome dos jornalistas ao tal Freud Godoy. O cara pode ter muitos pecados. Mas, o que fizemos na véspera da eleição foi incrível: matéria mostrando as "suspeitas", e apontando o dedo para a sala onde ele trabalhava, bem próximo à sala do presidente... A mensagem era clara. Mas, quando a PF concluiu que não havia nada contra ele, o principal telejornal da Globo silenciou antes da eleição.
Não vi matérias mostrando as conexões de Platão com Serra, com os tucanos.
Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB. Mas vi várias matérias ressaltando os personagens petistas do escândalo. E, vejam: ninguém na Redação queria poupar os petistas (eu cobri durante meses o caso Santo André; eram matérias desfavoráveis a Lula e ao PT, nunca achei que não devêssemos fazer; seria o fim da picada...).
O que pedíamos era isonomia. Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas!
Um colega nosso chegou a produzir, de forma precária, por telefone (vejam, bem, por telefone! Uma TV como a Globo fazer reportagem por telefone), reportagem com perfil do Abel. Foi editada, gerada para o Rio. Nunca foi ao ar!
Os telespectadores da Globo nunca viram Serra e os tucanos entregando ambulâncias cercados pelos deputados sanguessugas. Era o que estava na tal fita do "dossiê". Outras TVs mostraram o vídeo, a internet mostrou. A Globo, não. Provava alguma coisa contra Serra? Não. Ele não era obrigado a saber das falcatruas de deputados do baixo clero. Mas, por que demos o gabinete de Freud pertinho de Lula, e não demos Serra com sanguessugas?
E o caso gravíssimo das perguntas para o Serra? Ouvi, de pelo menos 3 pessoas diretamente envolvidas com o SP-TV Segunda Edição, que as perguntas para o Serra, na entrevista ao vivo no jornal, às vésperas do primeiro turno, foram rigorosamente selecionadas. Aquele diretor (aquele, vocês sabem quem) teria mandado cortar todas as perguntas "desagradáveis". A equipe do jornal ficou atônita. Entrevistas com os outros candidatos tinham sido duras, feitas com liberdade. Com o Serra, teria havido, deliberadamente, a intenção de amaciar.
E isso era um segredo de polichinelo. Muita gente ouviu essa história pelos corredores...
"Não tenho mais estômago"
E as fotos da grana dos aloprados? Tínhamos que publicar? Claro. Mas, por que não demos a história completa? Os colegas que estavam na PF naquele dia (15 de setembro), tinham a gravação, mostrando as circunstâncias em que o delegado vazara as fotos. Justiça seja feita: sei que eles (repórter e produtor) queriam dar a matéria completa – as fotos, e as circunstâncias do vazamento. Podiam até proteger a fonte, mas escancarando o que são os bastidores de uma campanha no Brasil. Isso seria fazer jornalismo, expor as entranhas do poder.
Mais uma vez, fomos seletivos: as fotos mostradas com estardalhaço. A fita do delegado, essa sumiu!
Aquele diretor, aquele que controla cada palavra dos textos de política, disse que só tomou conhecimento do conteúdo da fita no dia seguinte. Quer que a gente acredite?
Por que nunca mostraram o conteúdo da fita do delegado no JN?
O JN levou um furo, foi isso?
Um colega nosso, aqui da Globo, ouviu a fita e botou no site pessoal dele... Mas, a Globo não pôs no ar... O portal G1 botou na íntegra a fita do delegado, dias depois de a CartaCapital ter dado o caso. Era notícia? Para o portal das Organizações Globo, era.
Por que o JN não deu no dia 29 de setembro? Levou um furo?
Não. Furada foi a cobertura da eleição. Infelizmente.
E, pra terminar, aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da CartaCapital. Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes!
Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista Quatro Rodas dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim!
Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...
De resto, está difícil continuar fazendo jornalismo numa emissora que obriga repórteres a chamarem negros de "pretos e pardos". Vocês já viram isso no ar? Sinto vergonha...
A justificativa: IBGE (e, portanto, o Estado brasileiro) usa essa nomenclatura. Problema do IBGE. Eu me recuso a entrar nessa. Delegados de polícia (representantes do Estado) costumavam (até bem pouco tempo) tratar companheiras (mesmo em relações estáveis) como "concubinas" ou "amásias". Nunca usamos esses termos!
Árabes que chegaram ao Brasil no início do século passado eram chamados de "turcos" pelas autoridades (o passaporte era do Império Turco Otomano, por isso a nomenclatura). Por causa disso, jornalistas deviam chamar libaneses de turcos?
Daqui a pouco, a Globo vai pedir para que chamemos a Parada Gay de "Parada dos Pederastas". Francamente, não tenho mais estômago.
Mas, também, o que esperar de uma Redação que é dirigida por alguém que defende a cobertura feita pela Globo na época das Diretas?
"Não sou católico nem protestante"
Respeito a imensa maioria dos colegas que ficam aqui. Tenho certeza que vão continuar se esforçando pra fazer bom Jornalismo. Não será fácil a tarefa de vocês.
Olhem no ar. Ouçam os comentaristas. As poucas vozes dissonantes sumiram. Franklin Martins foi afastado. Do Bom Dia Brasil ao Jornal do Globo, temos um desfile de gente que está do mesmo lado.
Mas sabem o que me deixou preocupado mesmo? O texto do João Roberto Marinho depois das eleições.
Ele comemorou a reação (dando a entender que foi absolutamente espontânea; será que disseram isso pra ele? Será que não contaram a ele do mal-estar na Redação de São Paulo?) de jornalistas em defesa da cobertura da Globo:
"(...) diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança".
Entendi. Ele comemora que não haja dúvidas e incertezas... Faz sentido. Incerteza atrapalha fechamento de jornal. Incerteza e dúvida são palavras terríveis. Devem ser banidas. Como qualquer um que diga que há racismo – sim – no Brasil.
E vejam o vocabulário: "lealdade e confiança". Organizações ainda hoje bem populares na Itália costumam usar esse jargão da "lealdade".
Caro João, você talvez nem saiba direito quem eu sou. Mas, gostaria de dizer a você que lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas.Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia!
João, da família Marinho, disse mais no brilhante comunicado interno:
"Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando".
Caro João, em que planeta você vive? Várias cabeças? Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!
Cumpro agora um dever de lealdade: informo-lhe que, passadas as eleições, quem discordou da linha editorial da casa foi posto na "geladeira". Foi lamentável, caro João. Você devia saber como anda o ânimo da Redação – especialmente em São Paulo.
Boa parte dos seus "colaboradores" (você, João, aprendeu direitinho o vocabulário ideológico dos consultores e tecnocratas – "colaboradores", essa é boa... Eu não sou colaborador, coisa nenhuma! Sou jornalista!) está triste e ressabiada com o que se passou.
Mas, isso tudo tem pouca importância. Grave mesmo é a tela da Globo – no Jornalismo, especialmente – não refletir a diversidade social e política brasileira. Nos anos 90, houve um ensaio, um movimento em direção à pluralidade. Já abortado. Será que a opção é consciente?
Isso me lembra a Igreja Católica, que sob Ratzinger preferiu expurgar o braço progressista. Fez uma opção deliberada: preferiram ficar menores, porém mais coesos ideologicamente. Foi essa a opção de Ratzinger. Será essa a opção dos Marinho?
Depois, não sabem por que os protestantes crescem...
Eu, que não sou católico nem protestante, fico apenas preocupado por ver uma concessão pública ser usada dessa maneira!
"Levo muita coisa boa"
Mas, essa é também uma carta de despedida, sentimental.
Por isso, peço licença pra falar de lembranças pessoais.
Foram quase doze anos de Globo.
Quando entrei na TV, em 95, lá na antiga sede da praça Marechal, havia a Toninha – nossa mendiga de estimação, debaixo do viaduto. Os berros que ela dava em frente à entrada da TV traziam uma dimensão humana ao ambiente, lembravam-nos da fragilidade de todos nós, de como nossa razão pode ser frágil.
Havia o João Paulada – o faz-tudo da Redação.
Havia a moça do cafezinho (feito no coador, e entregue em garrafas térmicas), a tia dos doces...
Era um ambiente mais caseiro, menos pomposo. Hoje, na hora de dizer tchau, sinto saudade de tudo aquilo.
Havia bares sujos, pessoas simples circulando em volta de todos nós – nas ruas, no Metrô, na padaria.
Todos, do apresentador ao contínuo, tinham que entrar a pé na Redação. Estacionamentos eram externos (não havia "valet park", nem catraca eletrônica). A caminhada pelas calçadas do centro da cidade obrigava-nos a um salutar contato com a desigualdade brasileira.
Hoje, quando olho pra nossa Redação aqui na [avenida Luiz Carlos] Berrini, tenho a impressão que estou numa agência de publicidade. Ambiente asséptico, higienizado. Confortável, é verdade. Mas triste, quase desumano.
Mas, há as pessoas. Essas valem a pena.
Pra quem conseguiu chegar até o fim dessa longa carta, preciso dizer duas coisas...
1) Sinto-me aliviado por ficar longe de determinados personagens, pretensiosos e arrogantes, que exigem "lealdade"; parecem "poderosos chefões" falando com seus seguidores... Se depender de mim, como aconteceu na eleição, vão ficar falando sozinhos.
2) Mas, de meus colegas, da imensa maioria, vou sentir saudades.
Saudades das equipes na rua – UPJs que foram professores; cinegrafistas que foram companheiros; esses sim (todos) leais ao Jornalismo.
Saudades dos editores – que tiveram paciência com esse repórter aflito e procuraram ser leais às minúcias factuais.
Saudades dos produtores e dos chefes de reportagem – acho que fui leal com as pautas de vocês e (bem menos) com os horários!
Saudades de cada companheiro do apoio e da técnica – sempre leais.
Saudades especialmente, das grandes matérias no Globo Repórter – com aquela equipe de mestres (no Rio e em São Paulo) que aos poucos vai se desmontando, sem lealdade nem respeito com quem fez história (mas há bravos resistentes ainda).
Bem, pelo tom um tanto ácido dessa carta pode não parecer. Mas levo muita coisa boa daqui.
Perdi cabelos e ilusões. Mas, não a esperança.
Um beijo a todos.




Diretor da Globo comenta saída de repórter
Por Luiz Claudio Latgé em 21/12/2006
Publicado originalmente no Terra Magazine, 20/12/2006; intertítulo do OI
Luiz Claudio Latgé, diretor de jornalismo da Rede Globo, enviou à imprensa um comunicado sobre a demissão do repórter Rodrigo Vianna, que divulgou na terça-feira (19/12) uma carta criticando a direção de emissora na cobertura das eleições. Segundo a direção da Globo, Rodrigo Vianna encaminhou a mensagem após ter sido informado pela emissora de que seu contrato não seria renovado.]
O repórter Rodrigo Vianna foi informado hoje de que o contrato dele, que termina dia 31 de janeiro, não será renovado. A comunicação com um mês de antecedência é uma exigência do contrato. Está claro que o Rodrigo preparou-se para este momento, a ponto de ter uma longa mensagem pronta a ser divulgada. Os motivos da não renovação nada têm a ver com a cobertura das eleições, como ele especula. Em respeito a ele, jamais pretendi torná-los públicos nem farei isso agora. Rodrigo, porém, nem os quis conhecer. Ao ouvir de mim que o contrato não seria renovado, saiu intempestivamente de minha sala e enviou um e-mail para a Redação.
Rodrigo deve ter pensado que poderia encontrar no ataque aos colegas e na mentira uma saída nobre. Com essa atitude, ele pareceu querer se defender de acusações que jamais passaram pela nossa cabeça. A pergunta que fica é a seguinte: se a integridade dele é tão elevada, como ele supõe, por que não se demitiu anteriormente, convivendo durante meses com uma situação que ele classifica de insuportável? Não o fez porque tinha como certo que seu contrato seria renovado. Para que não perdesse o emprego por motivos menos nobres, preferiu repetir, quase literalmente, acusações que jornalistas mal-intencionados já nos tinham feito. Talvez tenha pensado que, assim, sairia como mártir. Deu a entender que partiu dele a iniciativa de sair, quando na verdade todos os sinais que emitia eram de que queria ficar.
Lamento que tenha perdido o equilíbrio e tentado transformar um assunto funcional interno numa questão política, que jamais existiu. Sinto não ter percebido antes que, intuindo que poderia ser desligado por outros motivos, construa essa "justificativa política", sem base na realidade. Foi um comportamento indigno. E não é justo com o trabalho de todos deixar sem resposta as críticas que ele nos faz.
Confusão de idéias
Fizemos uma cobertura eleitoral intensa e democrática, com a abertura de espaços em todos os nossos telejornais para todos os partidos, que mais de uma vez reconheceram nossa isenção e a importância do serviço prestado ao público. Não inventamos uma pilha de dinheiro na mesa da Polícia Federal. Já saímos a público antes para refutar estas teorias conspiratórias produzidas por grupos políticos e jornalistas descompromissados com a verdade.
Nosso noticiário em nada foi diferente dos demais veículos de imprensa de importância. De setembro a outubro, demos 20 reportagens sobre Abel Pereira e Barjas Negri. Todos os assuntos foram investigados, sim, e noticiados segundo o seu grau de relevância. Tudo o que fizemos foi exposto ao juízo do público em nossas edições diárias. Nossa isenção jornalística foi elogiada em artigos até por veículos de grupos concorrentes.
Não há nada em nossa conduta ou em nossas decisões editoriais que tenha nos afastado do bom jornalismo e muito menos que nos envergonhe.
A confusão de idéias que o Rodrigo Vianna expressa deve ter razões pessoais e compromissos que não nos cabe julgar. Peço desculpas aos colegas pelos ataques e ofensas por ele dirigidos.