24.4.07

Carlos Drummond de Andrade sobre João guimarães Rosa...

"Um Chamado João"
João era fabulista?
fabuloso?
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?
Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas,
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar
o que não ousamos compreender?
Tinha pastos, buritis plantados
no apartamento?
no peito?
Vegetal ele era ou passarinho
sob a robusta ossatura com pinta
de boi risonho?
(...)
Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
de precípites prodígios acudindo
a chamada geral?
Embaixador do reino
que há por trás dos reinos,
dos poderes, das
supostas fórmulas
de abracadabra, sésamo?
Reino cercado
não de muros, chaves, códigos,
mas o reino-reino?
Por que João sorria
se lhe perguntavam
que mistério é esse?
(...)

Andrade, Carlos Drummond de [22 nov. 1967]. Versiprosa. In: ___. Poesia e prosa. 8.ed. p.934-935.

"Em 1936, coletando alguns poemas inéditos, apresentou-se à Academia Brasileira de Letras, para concorrer ao Prêmio de Poesia. Magma obteve o primeiro lugar. Guilherme de Almeida, relator, julgando o livro do desconhecido moço mineiro, assim se pronuncia: (...) 'E o livro Magma, de João Guimarães Rosa, inscrito sob o número 8. Pura, esplêndida poesia. Descobre-se aí um poeta, um verdadeiro poeta: o poeta talvez de que o nosso instante precisava. Nativa, espontânea, legítima, saída da terra com uma naturalidade livre de vegetal em ascensão, Magma é poesia centrífuga, universalizadora, capaz de dar ao resto do mundo uma síntese perfeita do que temos e somos. Há aí, vivo de beleza, todo o Brasil: a sua terra, a sua gente, a sua alma, o seu bem e o seu mal'."
Rosa, Vilma Guimarães [1983]. Relembramentos: João Guimarães Rosa, meu pai. p.70

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