16.4.07

Os Modernistas...

Perfil

O Modernismo histórico brasileiro nasce do encontro entre jovens intelectuais e artistas plásticos paulistanos insatisfeitos frente ao anacronismo de nosso ambiente cultural no início do século XX. Refletindo tremores distantes de vanguardas européias como expressionismo, cubismo e futurismo, é em São Paulo que o movimento encontra solo fértil para brotar, em meados dos anos 10, sendo a primeira floração durante a Semana de Arte Moderna de 22, e seus frutos gerados ao longo das décadas seguintes. Por volta de 1912, depois de uma inspiradora viagem à Europa, o jovem e inquieto poeta Oswald de Andrade divulga em jornais e revistas paulistanas idéias ligadas às vanguardas européias. E não encontra receptividade de um público ainda condicionado aos velhos cânones da linguagem e da arte.Efetivamente, o trio de precursores da arte moderna brasileira começa a se definir em 1913, quando acontece a 1ª exposição de arte moderna no Brasil, com as obras expressionistas de Lasar Segall. A condição de estrangeiro do artista talvez tenha lhe protegido de uma reação hostil do público. O mesmo não aconteceu com Anita Malfatti, em sua célebre exposição de 1917, alvo de uma crítica publicada no Jornal “O Estado de São Paulo”, na qual o escritor Monteiro Lobato destila sua verve contra a obra de Anita, e por extensão, a Arte Moderna. Acostumada ao realismo acadêmico e trivial da arte usual de então, a elite paulistana se identifica com o crítico: Anita chega a ser agredida pessoalmente, tem quadros devolvidos, e a mostra é encerrada antes do tempo determinado. Depurada em anos de estudos em Berlim e Nova Iorque, a vanguarda de Anita Malfatti gera uma reação e uma contra-reação, na forma de um debate intelectual sobre idéias estéticas, linguagens e estratégias culturais, que resulta numa união de forças fundamental para o despertar do modernismo brasileiro. Em 1920, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia e até Monteiro Lobato se encantam com o trabalho do escultor Victor Brecheret, logo identificado como mais um alicerce para a arte moderna brasileira. Uma recusa do Estado ao projeto original de Brecheret para o Monumento às Bandeiras contribuiu para atiçar a rebeldia estética dos jovens modernistas paulistanos. A Semana de Arte Moderna de 22 surge a partir de uma idéia lançada por Di Cavalcanti em 1921, que encontrou ressonância nas mentes inquietas do empresário Paulo Prado e dos jovens poetas Mário de Andrade e Oswald de Andrade, reconhecidos como mentores intelectuais do movimento.Articulado como um evento de impacto e provocação destinado a promover a temática nativista e a renovação da arte, a Semana tem lugar no Teatro Municipal de São Paulo. Por meio de conferências, recitais, exposições e leituras, o grupo de modernistas manifesta a necessidade de se abandonar velhos valores estéticos, para dar lugar à idéias inovadoras, de forma geral comprometidas com a liberdade de expressão e a busca de uma identidade nacional. No entanto, na falta de um projeto definido, tanta experimentação resultou na incompreensão do público, que reagiu mal, chegando a agredir alguns artistas com vaias e gritos.Mais do que uma revolução artística, o espírito moderno expressa o encanto e ao mesmo tempo o mal-estar do homem ocidental diante de uma nova maneira de ser ocasionada pelas infinitas possibilidades e contingências da vida moderna. No Modernismo, a arte se liberta de velhos cânones. Na literatura, a temática migra do território restrito ao sublime para o prosaico da vida cotidiana. Prosa e poesia se opõe a ênfase oratória, a eloqüência verbal e ao tom declamatório da literatura parnasiana, e convidam a linguagem coloquial e espontânea a invadir as belas letras. Em processo análogo, nas artes plásticas, rompe-se a submissão a velhos modelos e exploram-se novas e variadas formas e conteúdos.Já em 1930, o radicalismo formal do Modernismo especificamente associado à Semana de 22 fora assimilado e até negado por novos autores. Mas o pensamento moderno continuou a se expandir, através de publicações como a Revista Antropofágica e a Revista Klaxon, e de movimentos filiados, como o Movimento Pau-Brasil, o Movimento Antropofágico, o Grupo da Anta e o Verde-Amarelismo.Nas décadas seguintes, a contribuição dos primeiros modernistas paulistanos consolidou-se progressivamente como fundamental para o desenvolvimento posterior de toda cultura brasileira.

1. Em 1992 o modernismo foi tema da Escola de Samba carioca Estácio de Sá. O enredo intitulado “Paulicéia Desvairada”, inicialmente considerado intelectual demais, deu à escola seu único título até hoje.2. A Semana de Arte Moderna de 22 ocorreu entre 11 e 18 de fevereiro no Teatro Municipal de São Paulo com uma exposição modernista e uma série de conferências, leituras de poesia e prosa, espetáculos de música e de dança nas noites dos dias 13, 15 e 17. A programação foi intercalada com o propósito de provocar a imprensa, e obteve resultado, pois os jornais dos dias 14, 16 e 18 publicaram artigos escandalizados sobre as noites anteriores.3. O catálogo oficial da Semana assim apresenta os seus participantes: Pintura - Anita Malfatti, Ferrignac, J. F. de Almeida Prado, John Graz, Martins Ribeiro, Vicente do Rego Monteiro e Zina Aita Escultura - Vítor Brecheret e W. Haarberg Arquitetura - Antônio Moya e Georg Przyrembel A esses, René Thiollier, um dos administradores financeiros da Semana, acrescenta Di Cavalcanti, Oswaldo Goeldi e Regina Graz na pintura, e Hildegardo Leão Veloso na escultura. A este nomes ainda se acrescentam alguns, segundo historiadores de arte. 4. FRASES:"Seremos lindíssimos! Insultadíssimos! Celebérrimos. Teremos nossos nomes eternizados nos jornais e na História da Arte Brasileira." - Trecho da carta-convite de Mário de Andrade a Minotti del Picchia para participar da Semana da Arte Moderna.“Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.” – Manuel Bandeira“Não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos.” – Oswald de Andrade“Os verdadeiros poetas não lêem os outros poetas e sim os pequenos anúncios dos jornais." – Mário Quintana

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