22.3.07

Por culpa do Thiago...

Você está em pé no banheiro do seu trabalho, de frente para o mictório, diminuindo a parte líquida de seu corpo. De repente chega outro homem no recinto e ocupa o mictório ao seu lado. Pelo canto dos olhos você identifica o colega. É um cara para quem você daria um simpático "oi" ou um afável "fala, garoto!" se cruzasse pelo corredor. Mas vocês não estão no corredor. Estão no sanitário e com seus órgãos mais preciosos nas mãos. E aí? Vai cumprimentar o colega?
Pode parecer idiota, mas essa situação acontece a cada minuto em universidades, academias e ambientes de trabalho. O problema é que nunca se ensinou nas escolas a matéria Etiqueta no Banheiro Masculino. Os sanitários coletivos se tornaram locais o­nde o instinto é que manda. Nada de regras, acordos ou convenções. Cada um age como quiser ao se deparar com um conhecido a urinar a seu lado. Daí o choque de reações.
Na situação lá de cima, a maioria das pessoas finge que não percebeu que tem alguém do lado e continua na aliviante atividade. Quando termina, dá a tradicional balançada e vai lavar as mãos (mesmo quem não tem esse hábito de higiene, acaba lavando, já que tem alguém perto. Nem que seja só para molhar os dedos).
Só então "se dão conta" de que o colega estava lá. Aí rola uma encenação:
- "Oi, cara. Como vai (Só te vi agora porque não fico olhando pra quem tá do meu lado com o pau pra fora)?"
- "Vou bem (Também não olhei pro lado, posto que sou espada). E você?"
Mas às vezes você encontra um mijão festeiro. Em segundos você o reconhece e decide que não vai cumprimentá-lo. Mas logo o colega o saúda. Você finge que não sabe de quem se trata, levanta a cabeça e vira pro lado olhando o rosto dele (atenção para a ordem dos movimentos. Pega mal virar os olhos para o lado e só depois olhar para cima!). E devolve o cumprimento naturalmente, como se você sempre saudasse colegas de urina. E por mais insatisfeito que fique, jamais um homem vai demonstrar que não gostou de falar com alguém que estava com a genitália nas mãos.
Podemos dividir os homens entre os que cumprimentam enquanto urinam e os que fingem que não sabem que um conhecido urina ao seu lado.
Outra curiosidade são aqueles que ao ver que um dos três ou quatro mictórios já está ocupado, preferem se dirigir à privada. Se o primeiro sujeito urinante conhece bem o segundo, pode soltar uma gracinha do tipo "Ué, cara? Vai sentar pra mijar? Homem faz em pé!". Na única oportunidade que tive para soltar essa piadinha, meu colega foi mais esperto e falou rápido: "Vou aqui no vaso pra não te humilhar!". Essa é uma das melhores sacaneadas de banheiro.
Mas bom mesmo é demorar mais no mictório ao perceber que o cara ao lado não consegue urinar. Tem homem que não relaxa se alguém chegar ao mictório ao mesmo tempo que ele. Vai ficando nervoso por imaginar o que seu vizinho está pensando dele. "Ele vai achar que fico alterado com um homem ao meu lado. Vai achar que eu nem tava com vontade de urinar, mas vim ver os rapazes". Enquanto isso você fica lá fazendo questão que a cueca não leve o habitual último pingo.
Há outras diversões no banheiro masculino. Se um dia você não tiver mais argumentos contra uma mulher que lista as vantagens de ser fêmea, é só lembrar seu poder de destruir uma guimba de cigarro com os resíduos de seu choppinho. Ou que consegue conduzir uma bolinha de naftalina de um ponto a outro daqueles mictórios compridões. Ela se calará, pois nunca terá prazeres como o de mirar naqueles tubinhos com desinfetante que ficam pendurados nos vasos e fazer o líquido azul sair antes da descarga acionada.
Sim, companheiros. Esse passatempo ninguém pode nos tirar – exceto um cirurgião especializado.
Aliás, desconfio que os estabelecimentos joguem pontas de cigarro e naftalina nos mictórios apenas para evitar que jorremos para fora do local apropriado. Como se sabe, temos um inexplicável costume de às vezes errar o mictório ou o vaso (Não abaixe a cabeça. Faz parte de ser macho). Com esses objetos, nos concentramos mais no alvo.
Já fui a um barzinho que tinha o requinte de usar gelo nos mictórios. É uma maravilha! A gente se sente como um deus-sol derretendo blocos de iceberg fumegantes. Não sei se os cubos estavam lá só para nosso prazer, mas por via das dúvidas, avisei às mulheres da minha mesa que não pedissem gelo nos refrigerantes

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