É uma das atividades com as quais ocupa suas horas livres. Abre os aparelhos, analisa as engrenagens, retira a poeira, troca as peças. Muitos sabem fazer reparos em relógios, mas o músico vai além: ele também conserta, a seu favor, o fluxo ininterrupto do tempo.Neto artístico de Noel Rosa, filho verdadeiro do lendário sambista Paulo César Faria, um dos fundadores da Portela, afilhado de Manacéa, Paulo da Portela e outros bambas, contemporâneo de Clara Nunes, Leci Brandão e Paulinho Nogueira e "pai" de uma geração frondosa, que inclui nomes como Marisa Monte e Teresa Cristina, Paulinho parece reunir todos os tempos em um. O que fica claro em Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje, documentário de 2003 dirigido pela carioca Izabel Jaguaribe.O longa, que conta com argumento e entrevistas realizados pelo jornalista Zuenir Ventura, mostra cenas musicais memoráveis. Em uma delas, Paulinho, no cavaquinho, toca, acompanhado por seu pai e o filho João, ambos no violão, Rosinha, Essa Menina. Representantes de três épocas, três tempos distintos - passado, presente e futuro - numa roda de samba. Em outro momento, Marisa Monte canta com Paulinho aquela que ele considera uma das principais músicas do século, que atravessou os anos sem sofrer danos do tempo: Carinhoso, de Pixinguinha. Zeca Pagodinho, Elton Medeiros, Marina Lima e, é claro, a Velha Guarda da Portela também participam de outras seqüências do filme.A relação que o artista Paulinho estabelece com o tempo já é conhecida; está presente em muitas de suas composições - Foi um Rio que Passou em Minha Vida, Sinal Fechado, 14 anos, entre outras. Menos conhecida - e agora revelada no documentário de Izabel - é a relação que o Paulinho pai de família, discreto cidadão carioca, estabelece com o tempo. Ou melhor, com o seu tempo. Pois é de fato um tempo próprio, que muitas vezes contrasta com a noção de tempo daqueles com quem o cantor, instrumentista e compositor convive."Quando eu penso no futuro, não esqueço meu passado." Os versos de Dança da Solidão ilustram bem a maneira como o músico, que tem uma relação muito intensa com o passado, encara a saudade. Para ele, que diz nunca sentir algum tipo de nostalgia, tudo aquilo que foi engolido pelo tempo não está de forma alguma perdido. O passado vive no presente. Parafraseando os versos de Wilson Batista ("meu mundo é hoje, não existe amanhã pra mim"), um de seus compositores favoritos, Paulinho conclui: "Eu costumo dizer que meu tempo é hoje; eu não vivo no passado, o passado vive em mim".
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