20.10.06


FALTA DE CULTURA – FALTA DE EDUCAÇÃO
O Brasileiro na Contramão!

*Por Fred

A tiragem média de um romance no Brasil é de 3.000 exemplares; a ocupação média nos teatros é de 18%; as gravadoras têm números pífios e a média de espectadores de filmes brasileiros, de 250 mil (2005) está em 180 mil em 2006.
Os números revelam enorme desinteresse pela arte, e cresce a distância entre os significados percebidos pelo público e o conteúdo latente das formas de expressão.
Nem os 55 milhões de pessoas envolvidos na educação (estudantes e professores/fundamental ao doutorado) usufruem da produção artística. O país vive uma educação sem cultura e uma criação artística sem público. A economia cresce, mas sem alma.
As artes interagem com as demais metáforas – filosofia, antropologia, sociologia e etc. – criadas pela sensibilidade e razão humanas pra se entender; entender o mundo e se entender no mundo.
O que se vê, porém, são médicos que jamais leram um romance, engenheiros que nunca foram ao teatro, advogados que não vão ao cinema, dentistas que não se emocionam com a música... etc.
Na origem do fenômeno, uma sociedade que não tem a educação e o saber como valores, mas sim como meios de ter uma profissão e se inserir na produção. Se assegurar o emprego, prescinde-se da qualidade no ensino, ou, num utilitarismo ingênuo, se dá o diploma, cumpriu o papel.
Sem minimizar a importância do emprego num país carente dele, a educação renuncia à função de desvelar universos e se limita a formar mão-de-obra mais ou menos qualificada.
O pragmatismo expulsa as disciplinas chamadas de humanidades, que dão lugar àquelas de especialização prematura. Nessa moldura, a missão da Universidade – universalização do saber pelo tripé da formação profissional, do cidadão e do homem – torna-se uma trajetória de adestramento para a produção.
A história reconhece na aliança entre educação e cultura a primazia de criar sonhos e inventar meios para realizá-los. O valor simbólico da cultura fecunda o processo civilizatório, dos valores às leis, da política à vida. A herança de colonizado, a exclusão social e a elitização da cultura atrelam o futuro da produção artística ao que a educação lhe reservar.
A cultura é dependente da educação. Se não cumpre sua missão, sufoca as artes. Não se pode pensar a educação sem a cultura, nem a cultura sem a educação.
Ao artista, resta o desalento por sua obra não chegar ao público, não emocioná-lo, nem aguçar sua imaginação, não humanizá-lo, nem levá-lo a pensar. Artista e arte perdem a função, o público empobrece e estreita o horizonte da sociedade.
Não se formam platéias e as obras não circulam; não se viabiliza economicamente a produção, cujo custo crescente a torna mais dependente do Estado, suscetível à discriminação política e acomodação estética – o artista inibe a própria ousadia. A falta do público induzido pela educação, a produção artística se autodesqualifica na busca de audiências que não a reconhecem e perde o público cativo remanescente.
Educar não é apenas qualificar para o emprego, nem arte é apenas adorno que aguça a sensibilidade. Há uma dimensão humana que, sem educação e cultura, nada agrega como experiência coletiva nem alcança a plenitude como experiência individual capaz de discernir e ser livre para escolher. E, sem isso, não podemos dizer que somos realmente humanos.

Fred escritor/jornalista MTB 46.265 fred_alfredo@ig.com.br

No comments: