20.10.06
ESTOU VOLTANDO PRA CASA (Um Lugar Seguro!)
* Por Fred
Sentou-se bem alto, no topo da casa. Há pouco passara um susto daqueles (mais um). Ao tentar subir no telhado escorregou e se não fosse à saliência do arremate de cimento, ao qual ele havia se agarrado, agora seria mais um na estatística do hospital do bairro.
O outro susto foi, ao atender ao telefone, a notícia que então insistia, martelava. Sua cabeça explodiu, dela voaram neurônios – sua namorada que vinha pela auto-estrada fora vítima de um acidente; estava entre a vida e a morte!
A mãe é quem havia ligado falando do acontecido, chorava muito e pelo tom da voz deixava transparecer, ainda mais, o seu sentimento de repulsa ao relacionamento dos dois.
Um agravante “A Garota Estava Grávida!”.
Um dia antes, ao ligar, contou a ele a novidade. Tudo bem, eles não tinham certeza, pois o exame feito pela garota era aquele vendido nas farmácias, não muito seguro, pensava ele, e assim não levou a sério. Disse que viria pessoalmente e então falaria sobre a perspectiva da gravidez e de no futuro terem um filho (a) e todas as responsabilidades que isso demandaria.
As perguntas vinham aos montes: - Será que ela contou sobre a gravidez à mãe? Por morarem em cidades diferentes, ele não tinha a segurança de ser o seu único homem – O filho seria seu realmente? Se dele, nasceria perfeito, bonito, saudável? Gostaria das mesmas coisas: música, literatura, trabalho? A gravidez realmente existia???
O telhado da sua casa servia, desde sua infância, como o divã do psicanalista. Confidentes... Só o céu e sua profundidade verdadeira, é também dele o segredo necessário, o que ele nunca encontrou nem nos “amigos” mais próximos.
O telefone tocou novamente. De cima do telhado ele ouvia a repetição do toque. Ninguém mais na casa a não ser ele. Na verdade ele queria estar era em Marrakesh, sem pensar em nada, ao invés de estar no telhado de sua casa com tantos conflitos interiores. O telefone não parava – tocava... tocava!
Os carros, as casas, as pessoas... A vida que não para. Os problemas que nos fazem crescer e permeiam a nossa vida.
Agora ele entendia muito bem o que seu pai e sua mãe insistiam em afirmar... a maturidade necessária para resolver os tais problemas.
O telefone que havia parado de tocar, dando a chance para tal reflexão, volta com seu tinido agudo, trazendo a realidade. Com um cuidado resoluto, se agarrando pela encosta, desce apressado para o telefone que toca.
“Sou eu... estou bem! Os médicos querem que eu fique sob observação, mas estou bem.
Saiba que realmente estava grávida e com o acidente sofri também um aborto. Sempre soube das suas inseguranças e agora você está livre. Não há mais nenhum vínculo. Você está livre!”
O rapaz aliviado não entende bem o que acaba de ouvir. O que houve – estava perplexo!
“Filha, foi a melhor coisa a ser feita. Estamos do seu lado. Você terá esse filho e nós a ajudaremos. O futuro atestará essa sua acertada decisão e você será feliz!”
* Fred é escritor/jornalista - MTB 46.265
fred_alfredo@ig.com.br
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