Os crimes cometidos pelas ditaduras militares implantadas
na América Latina nos anos 60 e 70 continuam em pauta
À zero hora do dia 8, em La Higuera (Bolívia), frente a milhares de pessoas vindas de todo o mundo, o presidente da Fundação Che Guevara, Oswaldo Peredo, deu início ao ato que marcou os 40 anos do assassinato do dirigente e líder revolucionário latino-americano Ernesto Che Guevara. Nas palavras de Peredo, “Há dez anos o povo decidiu que não haveria mais homenagens clandestinas. Os atos são todos públicos, com a testa erguida e o peito aberto. Agora, eles [os militares] é que estão reclusos e são obrigados a fazer seus atos em um quartel”.
A 60 km de La Higuera, em Vallegrande, um pouco mais tarde, na pista do aeroporto onde há dez anos foram encontrados os restos mortais do Che e de outros seis guerrilheiros, o presidente Evo Morales, em seu discurso, falou do legado de Che: “Ele continuará, até que se alterem os sistemas econômicos. Estou falando em acabar com o capitalismo”.
No dia 9, a Justiça argentina condenou a prisão perpétua o capelão militar Von Wernich, por sete homicídios, além de diversos casos de torturas e privação ilegítima de liberdade cometidos contra presos políticos ao longo do genocídio perpetrado contra a esquerda e as demais forças populares daquele país, entre 1976 e 1983. São 30 mil “desaparecidos” (assassinatos seguidos de ocultação de cadáveres) na Argentina, nesse período.
No dia 4, no Chile, a viúva, os cinco filhos do general Augusto Pinochet e outras 17 pessoas (entre os quais 13 militares – alguns com patente de general) foram presos por ordem da Justiça. A viúva e os filhos/as do ex-general-presidente são acusados de enriquecimento ilícito. Os demais elementos, de acordo com o juiz que cuida do caso, agiam na Casa Militar do governo Pinochet, desviando recursos para a família do general e seus aliados. O senhor Augusto Pinochet morreu em dezembro de 2006, em prisão domiciliar, antes de ser julgado por crimes financeiros e de violação dos direitos humanos. Ele mantinha uma fortuna de 27 milhões de dólares fora do Chile, e era responsabilizado pelo assassinato e/ou “desaparecimento” de 3 mil militantes da esquerda e das demais forças populares chilenas enquanto governou o país, entre 1973 e 1988.
No dia 5, no Brasil, atendendo a ação proposta por clubes militares, a Justiça Federal do Rio de Janeiro determinou em liminar a suspensão da decisão da Comissão de Anistia que promoveu o capitão Carlos Lamarca a coronel do Exército. Os clubes militares foram importante foco da conspiração da cúpula militar de direita que participou do golpe contra o governo do presidente João Goulat – Jango, em 1964. O capitão Carlos Lamarca foi friamente assassinado em Brotas de Macaúbas (BA), em 17 de setembro de 1971. São cerca de 400, os mortos e/ou “desaparecidos” políticos durante a ditadura civil-militar implantada em 1964. A juíza Cláudia Maria Ferreira Bastos Neiva, responsável pelo caso, decidiu ainda suspender de oficio (sem ter havido qualquer pedido de liminar) o pagamento de vencimentos equivalentes ao de general-de-brigada e indenização à viúva de Carlos Lamarca, conforme havia decidido a Comissão de Anistia e transformado em portaria pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. A senhora Cláudia Maria Ferreira Bastos Neiva critica a decisão da Comissão, que classificou de “opção política”.
Ainda no Brasil, durante a primeira semana deste outubro, e até o dia 8, multiplicaram-se em todo o país atos e debates promovidos por movimentos e organizações populares e de trabalhadores, e partidos políticos de esquerda sobre o legado do Che.
Che vive.
Pequena memória,
mas não menos outubro
Contam companheiros mais antigos que, nos anos 1960, vivia em São Paulo um jovem italiano da região de Verona, radicado desde menino no Brasil. O jovem era professor de História da Arte em cursinhos pré-vestibulares, estudava na Faculdade de Filosofia e na Faculdade de Arquitetura da USP. Artista plástico, militante da Dissidência Estudantil do Partido Comunista Brasileiro, era presidente do Centrinho (Centro Acadêmico) da Filosofia. No dia 8 outubro de 1967, ao saber da notícia do assassinato do Che, trancou-se sem mais palavras em seu quarto, num apartamento que dividia com amigos no edifício Copan. Colocou um LP em sua vitrola (quem sabe, Vivaldi; quem sabe, Albinoni) e só depois de muitas horas abriu a porta. Tinha acabado de fazer um retrato do Che – desenho. Registrava a memória: o que não se simboliza, morre – costumava dizer. Pequena memória de outubro. Os poucos que tiveram acesso ao trabalho (hoje não localizado) tecem grandes e comovidos elogios.
Era Antonio Benetazzo – Benê.
Benê foi dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN) e em seguida do Movimento de Libertação Popular (Molipo). Seria assassinado sob torturas pela Operação Bandeirantes em 30 de outubro de 1972, dois dias antes de completar 31 anos. Suas últimas horas, estima-se, foram no sítio 31 de Março.
À zero hora do dia 8, em La Higuera (Bolívia), frente a milhares de pessoas vindas de todo o mundo, o presidente da Fundação Che Guevara, Oswaldo Peredo, deu início ao ato que marcou os 40 anos do assassinato do dirigente e líder revolucionário latino-americano Ernesto Che Guevara. Nas palavras de Peredo, “Há dez anos o povo decidiu que não haveria mais homenagens clandestinas. Os atos são todos públicos, com a testa erguida e o peito aberto. Agora, eles [os militares] é que estão reclusos e são obrigados a fazer seus atos em um quartel”.
A 60 km de La Higuera, em Vallegrande, um pouco mais tarde, na pista do aeroporto onde há dez anos foram encontrados os restos mortais do Che e de outros seis guerrilheiros, o presidente Evo Morales, em seu discurso, falou do legado de Che: “Ele continuará, até que se alterem os sistemas econômicos. Estou falando em acabar com o capitalismo”.
No dia 9, a Justiça argentina condenou a prisão perpétua o capelão militar Von Wernich, por sete homicídios, além de diversos casos de torturas e privação ilegítima de liberdade cometidos contra presos políticos ao longo do genocídio perpetrado contra a esquerda e as demais forças populares daquele país, entre 1976 e 1983. São 30 mil “desaparecidos” (assassinatos seguidos de ocultação de cadáveres) na Argentina, nesse período.
No dia 4, no Chile, a viúva, os cinco filhos do general Augusto Pinochet e outras 17 pessoas (entre os quais 13 militares – alguns com patente de general) foram presos por ordem da Justiça. A viúva e os filhos/as do ex-general-presidente são acusados de enriquecimento ilícito. Os demais elementos, de acordo com o juiz que cuida do caso, agiam na Casa Militar do governo Pinochet, desviando recursos para a família do general e seus aliados. O senhor Augusto Pinochet morreu em dezembro de 2006, em prisão domiciliar, antes de ser julgado por crimes financeiros e de violação dos direitos humanos. Ele mantinha uma fortuna de 27 milhões de dólares fora do Chile, e era responsabilizado pelo assassinato e/ou “desaparecimento” de 3 mil militantes da esquerda e das demais forças populares chilenas enquanto governou o país, entre 1973 e 1988.
No dia 5, no Brasil, atendendo a ação proposta por clubes militares, a Justiça Federal do Rio de Janeiro determinou em liminar a suspensão da decisão da Comissão de Anistia que promoveu o capitão Carlos Lamarca a coronel do Exército. Os clubes militares foram importante foco da conspiração da cúpula militar de direita que participou do golpe contra o governo do presidente João Goulat – Jango, em 1964. O capitão Carlos Lamarca foi friamente assassinado em Brotas de Macaúbas (BA), em 17 de setembro de 1971. São cerca de 400, os mortos e/ou “desaparecidos” políticos durante a ditadura civil-militar implantada em 1964. A juíza Cláudia Maria Ferreira Bastos Neiva, responsável pelo caso, decidiu ainda suspender de oficio (sem ter havido qualquer pedido de liminar) o pagamento de vencimentos equivalentes ao de general-de-brigada e indenização à viúva de Carlos Lamarca, conforme havia decidido a Comissão de Anistia e transformado em portaria pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. A senhora Cláudia Maria Ferreira Bastos Neiva critica a decisão da Comissão, que classificou de “opção política”.
Ainda no Brasil, durante a primeira semana deste outubro, e até o dia 8, multiplicaram-se em todo o país atos e debates promovidos por movimentos e organizações populares e de trabalhadores, e partidos políticos de esquerda sobre o legado do Che.
Che vive.
Pequena memória,
mas não menos outubro
Contam companheiros mais antigos que, nos anos 1960, vivia em São Paulo um jovem italiano da região de Verona, radicado desde menino no Brasil. O jovem era professor de História da Arte em cursinhos pré-vestibulares, estudava na Faculdade de Filosofia e na Faculdade de Arquitetura da USP. Artista plástico, militante da Dissidência Estudantil do Partido Comunista Brasileiro, era presidente do Centrinho (Centro Acadêmico) da Filosofia. No dia 8 outubro de 1967, ao saber da notícia do assassinato do Che, trancou-se sem mais palavras em seu quarto, num apartamento que dividia com amigos no edifício Copan. Colocou um LP em sua vitrola (quem sabe, Vivaldi; quem sabe, Albinoni) e só depois de muitas horas abriu a porta. Tinha acabado de fazer um retrato do Che – desenho. Registrava a memória: o que não se simboliza, morre – costumava dizer. Pequena memória de outubro. Os poucos que tiveram acesso ao trabalho (hoje não localizado) tecem grandes e comovidos elogios.
Era Antonio Benetazzo – Benê.
Benê foi dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN) e em seguida do Movimento de Libertação Popular (Molipo). Seria assassinado sob torturas pela Operação Bandeirantes em 30 de outubro de 1972, dois dias antes de completar 31 anos. Suas últimas horas, estima-se, foram no sítio 31 de Março.
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