Onze minutos, de Paulo Coelho
"Embora meu objetivo seja compreender o amor, e embora sofra por causa das pessoas a quem entreguei meu coração, vejo que aqueles que me tocaram a alma não conseguiram despertar meu corpo, e aqueles que tocaram meu corpo não conseguiram atingir minha alma" Com estas palavras, escritas aos 17 anos em seu diário, Maria, personagem principal de Onze minutos, novo livro de Paulo Coelho, dá uma pista sobre a busca que realizará ao longo da comovente obra. Para a jovem, decepcionada com os padrões afetivos e sexuais que conhece, torna-se utópica a idéia de que duas pessoas possam ter tanto o corpo quanto a alma unidos em perfeita harmonia num relacionamento.
Paulo Coelho, cujos livros foram traduzidos para 56 idiomas e já venderam quase 54 milhões de exemplares em mais de 150 países, desta vez inspira-se na vida de uma prostituta brasileira na Suíça para falar do lado sagrado do sexo. No ano 2000, durante uma tarde de autógrafos em Genebra, o escritor conheceu uma mulher que havia trabalhado nas boates da cidade usando o nome de guerra Maria. Foi depois de ouvir sua história - e a de várias outras moças - que Coelho concluiu que ela seria uma excelente base para a abordagem do assunto que há tanto tempo o interessava. "Para escrever sobre o lado sagrado do sexo, era necessário entender por que ele tinha sido tão profanado", ele explica.
A Maria da ficção é nordestina e teve uma adolescência pontuada por frustrações no sertão. Poderia se casar facilmente, mas não quer fazer isso antes de realizar o sonho de conhecer o Rio de Janeiro. Ela economiza durante dois anos e parte para o famoso cartão-postal. Na praia de Copacabana, ela desperta a atenção de um empresário suíço, que logo a convida a acompanhá-lo à Europa, com promessas de transformá-la numa estrela muitíssimo bem remunerada. Sempre disposta a arriscar e com a permissão de sua família, com quem compartilha o sonho dourado, Maria se muda para a desconhecida Genebra tendo em mãos um contrato assinado. Se ela o tivesse lido com atenção, talvez tivesse percebido a armadilha a tempo: um trabalho semi-escravo de dançarina numa casa noturna. Em pouco tempo, ela acaba se tornando prostituta.
Com esta trajetória, semelhante à de tantas mulheres, Maria amadurece precocemente e se distancia cada vez mais dos ideais de felicidade que tinha na adolescência. No decorrer de um ano vendendo seu tempo sem poder comprá-lo de volta, como ela diz, a jovem aprende a ser prática e realista, vacinada contra ilusões. Em vez de sonhos, agora ela tem um objetivo: juntar dinheiro para comprar uma fazenda no Brasil. E seu corpo é apenas a fonte de renda necessária para isso. Paralelamente à narrativa, há o diário de Maria, onde ela anota as conclusões tiradas de sua peregrinação às avessas. "Meu livro não se propõe a ser um estudo da prostituição", diz Paulo Coelho. "Procurei fugir por completo de qualquer conotação moralista, de julgar o personagem principal pela escolha que fez. O que me interessa, verdadeiramente, é a abordagem das pessoas com relação ao sexo"
De fato, dizer que Onze minutos é a história de uma prostituta seria uma definição muito simplista. Mais importante que a trajetória de Maria é o aprendizado que ela é capaz de extrair de suas duras experiências no exterior. Ela escreve em seu diário: "Os evangelhos e todos os textos sagrados de todas as religiões foram escritos no exílio, em busca da compreensão de Deus (...) - é nesse momento que os livros são escritos, os quadros pintados, porque não queremos e não podemos esquecer quem somos"
Pelo menos uma característica a personagem Maria tem em comum com seu criador, Paulo Coelho: ambos são fiéis a si mesmos. O escritor diz que nunca planeja criar ou evitar polêmicas - seu compromisso é apenas falar daquilo que o preocupa, não do que todos gostariam de escutar. "Alguns livros nos fazem sonhar, outros nos trazem a realidade, mas nenhum pode fugir daquilo que é mais importante para um autor: a honestidade com o que escreve", ele explica.
Na nota final, você agradece a uma certa Maria, em cuja vida teria sido baseado "Onze minutos". Até que ponto a Maria do livro é a Maria da vida real? O quanto de si mesma ela encontrará na história? Maria é um personagem real, hoje em dia casada e com dois filhos. Entretanto, o livro não é exatamente sua biografia, já que procurei usar vários elementos paralelos. Acho que ela reconheceria sua história ao longo de todo o livro, mas nem sempre enfrentaria as situações como o meu personagem enfrenta. A Maria que você conheceu na Suíça já leu o livro? Caso tenha lido, você pode dizer o que ela achou do resultado?Leu uma primeira versão, em Outubro de 2002. Me disse que o livro é uma mistura de várias pessoas. Eu disse que era exatamente esta a intenção. Perguntou quem escreveu o diário que está no livro, e disse que gostaria de ter escrito aquilo tudo que aparece em seu diário. Pediu que eu trocasse a idade do personagem masculino (eu aceitei, na realidade ele é mais velho do que aparece no livro).
Outras mulheres são citadas na nota final por seus nomes de guerra. Elas são todas brasileiras? Suas histórias, assim como a de Maria, também ajudaram a compor a personagem principal?Brasileiras, colombianas, iugoslava, russa, hondurenha. Tê-las conhecido fez com que o livro se tornasse diferente do que você tinha em mente antes?A idéia de escrever sobre sexo era antiga, mas eu não tinha uma linha definida. E a gestação de um livro é algo misterioso para mim; o texto só se manifesta depois que eu já o escrevi no meu subconsciente. Talvez, nas outras tentativas de escrever sobre sexo, eu estivesse muito convencido de abordá-lo apenas em seu aspecto sagrado. Mas a realidade da vida é diferente, e estou muito mais satisfeito com a maneira como resolvi o problema da história.
Qual a idéia central de "Onze Minutos"? Vivemos em um mundo de comportamento padrão: padrão de beleza, de qualidade, de inteligência, de eficiência. Achamos que existe um modelo para tudo, e achamos também que, seguindo este modelo, estaremos seguros. E por causa disso, estabelecemos um "padrão sexo", que na verdade é composto de uma série de mentiras: orgasmo vaginal, virilidade acima de tudo, melhor fingir que deixar o outro decepcionado, etc. Como conseqüência direta, este tipo de atitude tem deixado milhões de pessoas frustradas, infelizes, culpadas. E tem provocado todo tipo de aberração, como a pedofilia, o incesto, ou o estupro. Por que nos comportamos assim com algo tão importante?
Paulo Coelho, cujos livros foram traduzidos para 56 idiomas e já venderam quase 54 milhões de exemplares em mais de 150 países, desta vez inspira-se na vida de uma prostituta brasileira na Suíça para falar do lado sagrado do sexo. No ano 2000, durante uma tarde de autógrafos em Genebra, o escritor conheceu uma mulher que havia trabalhado nas boates da cidade usando o nome de guerra Maria. Foi depois de ouvir sua história - e a de várias outras moças - que Coelho concluiu que ela seria uma excelente base para a abordagem do assunto que há tanto tempo o interessava. "Para escrever sobre o lado sagrado do sexo, era necessário entender por que ele tinha sido tão profanado", ele explica.
A Maria da ficção é nordestina e teve uma adolescência pontuada por frustrações no sertão. Poderia se casar facilmente, mas não quer fazer isso antes de realizar o sonho de conhecer o Rio de Janeiro. Ela economiza durante dois anos e parte para o famoso cartão-postal. Na praia de Copacabana, ela desperta a atenção de um empresário suíço, que logo a convida a acompanhá-lo à Europa, com promessas de transformá-la numa estrela muitíssimo bem remunerada. Sempre disposta a arriscar e com a permissão de sua família, com quem compartilha o sonho dourado, Maria se muda para a desconhecida Genebra tendo em mãos um contrato assinado. Se ela o tivesse lido com atenção, talvez tivesse percebido a armadilha a tempo: um trabalho semi-escravo de dançarina numa casa noturna. Em pouco tempo, ela acaba se tornando prostituta.
Com esta trajetória, semelhante à de tantas mulheres, Maria amadurece precocemente e se distancia cada vez mais dos ideais de felicidade que tinha na adolescência. No decorrer de um ano vendendo seu tempo sem poder comprá-lo de volta, como ela diz, a jovem aprende a ser prática e realista, vacinada contra ilusões. Em vez de sonhos, agora ela tem um objetivo: juntar dinheiro para comprar uma fazenda no Brasil. E seu corpo é apenas a fonte de renda necessária para isso. Paralelamente à narrativa, há o diário de Maria, onde ela anota as conclusões tiradas de sua peregrinação às avessas. "Meu livro não se propõe a ser um estudo da prostituição", diz Paulo Coelho. "Procurei fugir por completo de qualquer conotação moralista, de julgar o personagem principal pela escolha que fez. O que me interessa, verdadeiramente, é a abordagem das pessoas com relação ao sexo"
De fato, dizer que Onze minutos é a história de uma prostituta seria uma definição muito simplista. Mais importante que a trajetória de Maria é o aprendizado que ela é capaz de extrair de suas duras experiências no exterior. Ela escreve em seu diário: "Os evangelhos e todos os textos sagrados de todas as religiões foram escritos no exílio, em busca da compreensão de Deus (...) - é nesse momento que os livros são escritos, os quadros pintados, porque não queremos e não podemos esquecer quem somos"
Pelo menos uma característica a personagem Maria tem em comum com seu criador, Paulo Coelho: ambos são fiéis a si mesmos. O escritor diz que nunca planeja criar ou evitar polêmicas - seu compromisso é apenas falar daquilo que o preocupa, não do que todos gostariam de escutar. "Alguns livros nos fazem sonhar, outros nos trazem a realidade, mas nenhum pode fugir daquilo que é mais importante para um autor: a honestidade com o que escreve", ele explica.
Na nota final, você agradece a uma certa Maria, em cuja vida teria sido baseado "Onze minutos". Até que ponto a Maria do livro é a Maria da vida real? O quanto de si mesma ela encontrará na história? Maria é um personagem real, hoje em dia casada e com dois filhos. Entretanto, o livro não é exatamente sua biografia, já que procurei usar vários elementos paralelos. Acho que ela reconheceria sua história ao longo de todo o livro, mas nem sempre enfrentaria as situações como o meu personagem enfrenta. A Maria que você conheceu na Suíça já leu o livro? Caso tenha lido, você pode dizer o que ela achou do resultado?Leu uma primeira versão, em Outubro de 2002. Me disse que o livro é uma mistura de várias pessoas. Eu disse que era exatamente esta a intenção. Perguntou quem escreveu o diário que está no livro, e disse que gostaria de ter escrito aquilo tudo que aparece em seu diário. Pediu que eu trocasse a idade do personagem masculino (eu aceitei, na realidade ele é mais velho do que aparece no livro).
Outras mulheres são citadas na nota final por seus nomes de guerra. Elas são todas brasileiras? Suas histórias, assim como a de Maria, também ajudaram a compor a personagem principal?Brasileiras, colombianas, iugoslava, russa, hondurenha. Tê-las conhecido fez com que o livro se tornasse diferente do que você tinha em mente antes?A idéia de escrever sobre sexo era antiga, mas eu não tinha uma linha definida. E a gestação de um livro é algo misterioso para mim; o texto só se manifesta depois que eu já o escrevi no meu subconsciente. Talvez, nas outras tentativas de escrever sobre sexo, eu estivesse muito convencido de abordá-lo apenas em seu aspecto sagrado. Mas a realidade da vida é diferente, e estou muito mais satisfeito com a maneira como resolvi o problema da história.
Qual a idéia central de "Onze Minutos"? Vivemos em um mundo de comportamento padrão: padrão de beleza, de qualidade, de inteligência, de eficiência. Achamos que existe um modelo para tudo, e achamos também que, seguindo este modelo, estaremos seguros. E por causa disso, estabelecemos um "padrão sexo", que na verdade é composto de uma série de mentiras: orgasmo vaginal, virilidade acima de tudo, melhor fingir que deixar o outro decepcionado, etc. Como conseqüência direta, este tipo de atitude tem deixado milhões de pessoas frustradas, infelizes, culpadas. E tem provocado todo tipo de aberração, como a pedofilia, o incesto, ou o estupro. Por que nos comportamos assim com algo tão importante?
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