Por uma vida menos ordinária
Elas são ou foram casadas, têm filhos, trabalham ou trabalharam como domésticas, cozinheiras, empacotadoras em supermercado, faxineiras. Fazem parte daquele grupo de mulheres invisíveis com as quais cruzamos todos os dias e ignoramos por alguma razão: subalternas demais, feias demais, desimportantes demais na sociedade. São o que a socióloga Anna Maria Barbará batizou de “As meninas da Daspu”, título do livro em que ela reúne nove entrevistas com mulheres que exercem ou já exerceram a profissão mais antiga do mundo. São prostitutas, mulheres comuns, sem nenhum tipo de glamour - como o das garotas de programa que lançam livros, fazem fortuna e mudam de vida.
As meninas da Daspu querem comprar uma casa própria em algum subúrbio distante, pagar as contas, alimentar os filhos. Não apresentam nenhuma visão moralista do ofício de “vender o corpo”. Muitas já saíram do país para tentar a vida como prostituta em países europeus, onde a remuneração era melhor e o risco de vida, menor. Algumas foram presas por pequenos delitos, outras ganharam algum dinheiro, mas perderam tudo em alguma aventura amorosa ou simplesmente trocando de cidade, de vida, de cenário para seus cotidianos banais, ordinários.
Abaixo, a reprodução de alguns trechos de entrevistas publicadas no livro, que tem edição da recém-lançada Editora Novas Idéias e pode ser comprado no site da Daspu.
Prostituta é muito rotativa, você vai muito de um lugar para o outro. Existem várias casas assim. Você chega e o compromisso que você tem com a casa é o de pagar a diária, quando tem comida. Tem casas com café da manhã, almoço e janta. Tem outras que não. Você dorme e funciona como um hotel. Toda vez que você vai com um cliente para o quarto ele paga o uso do quarto. Você já dorme por conta do que ele pagou. Normalmente o primeiro programa é a diária. Você já não conta com o primeiro programa. Doroth de Castro Ferreira
Eu comecei na prostituição com minha irmã, ela me levou. Eu trabalhava em casa de família, aí eu ia para casa dela no fim de semana. Teve um dia que ela perguntou: ‘Quer ir trabalhar comigo?’Eu perguntei: ‘Você trabalha onde?’Ela disse: ‘Eu trabalho numa pensão. A mulheres paga a gente todos os dias.’ Aí eu fui com ela. Cheguei lá e que pensão era? Era zona. Eu tinha 16 anos. Comecei a ganhar dinheiro e fiquei. Imperalina Piedade da Silva
Quando eu comecei, lá na Praça Mauá, eu só queria sair com gringos. Depois eu vi que foi fracassando esse negócio de gringo, que às vezes não tinha navio, eu comecei a sair também com brasileiro. Aí que eu comecei a andar para tudo quanto é lado. Comecei a variar, roda tudo quanto é lugar…Preferi ficar na rua porque nas boates era muita disputa, aí eu fiquei andando na rua. Agora tem uma coisa, eu passei maus pedaços, logo assim que eu cheguei para batalhar, mas depois eu fui ficando esperta. Marilene Santos de Carvalho
Eu estava desempregada, fui no jornal ver algumas ofertas de emprego. Quando cheguei já estava tudo ocupado. Aí dei mais uma olhada no jornal. Aí eu vi um anúncio precisando de recepcionista de fino trato para executivo classe A. Eu não sabia muito bem o quer era, não, mas…Sabia o que era mais ou menos, mas não tinha certeza. Então, eu resolvi conferir, não é? Cheguei lá muito nervosa, muito tímida…Eu estava tímida porque eu nunca tinha feito aquele tipo de coisa. Era numa casa de massagem, num apartamento fechado. Roza Antônia de Melo Martins
A absoluta ausência de condenação moral à prostituição é uma das tônicas das entrevistas, que apontam para a trivialidade da vida destas mulheres que encontraram na prostituição uma das alternativas para a sobrevivência.
As meninas da Daspu querem comprar uma casa própria em algum subúrbio distante, pagar as contas, alimentar os filhos. Não apresentam nenhuma visão moralista do ofício de “vender o corpo”. Muitas já saíram do país para tentar a vida como prostituta em países europeus, onde a remuneração era melhor e o risco de vida, menor. Algumas foram presas por pequenos delitos, outras ganharam algum dinheiro, mas perderam tudo em alguma aventura amorosa ou simplesmente trocando de cidade, de vida, de cenário para seus cotidianos banais, ordinários.
Abaixo, a reprodução de alguns trechos de entrevistas publicadas no livro, que tem edição da recém-lançada Editora Novas Idéias e pode ser comprado no site da Daspu.
Prostituta é muito rotativa, você vai muito de um lugar para o outro. Existem várias casas assim. Você chega e o compromisso que você tem com a casa é o de pagar a diária, quando tem comida. Tem casas com café da manhã, almoço e janta. Tem outras que não. Você dorme e funciona como um hotel. Toda vez que você vai com um cliente para o quarto ele paga o uso do quarto. Você já dorme por conta do que ele pagou. Normalmente o primeiro programa é a diária. Você já não conta com o primeiro programa. Doroth de Castro Ferreira
Eu comecei na prostituição com minha irmã, ela me levou. Eu trabalhava em casa de família, aí eu ia para casa dela no fim de semana. Teve um dia que ela perguntou: ‘Quer ir trabalhar comigo?’Eu perguntei: ‘Você trabalha onde?’Ela disse: ‘Eu trabalho numa pensão. A mulheres paga a gente todos os dias.’ Aí eu fui com ela. Cheguei lá e que pensão era? Era zona. Eu tinha 16 anos. Comecei a ganhar dinheiro e fiquei. Imperalina Piedade da Silva
Quando eu comecei, lá na Praça Mauá, eu só queria sair com gringos. Depois eu vi que foi fracassando esse negócio de gringo, que às vezes não tinha navio, eu comecei a sair também com brasileiro. Aí que eu comecei a andar para tudo quanto é lado. Comecei a variar, roda tudo quanto é lugar…Preferi ficar na rua porque nas boates era muita disputa, aí eu fiquei andando na rua. Agora tem uma coisa, eu passei maus pedaços, logo assim que eu cheguei para batalhar, mas depois eu fui ficando esperta. Marilene Santos de Carvalho
Eu estava desempregada, fui no jornal ver algumas ofertas de emprego. Quando cheguei já estava tudo ocupado. Aí dei mais uma olhada no jornal. Aí eu vi um anúncio precisando de recepcionista de fino trato para executivo classe A. Eu não sabia muito bem o quer era, não, mas…Sabia o que era mais ou menos, mas não tinha certeza. Então, eu resolvi conferir, não é? Cheguei lá muito nervosa, muito tímida…Eu estava tímida porque eu nunca tinha feito aquele tipo de coisa. Era numa casa de massagem, num apartamento fechado. Roza Antônia de Melo Martins
A absoluta ausência de condenação moral à prostituição é uma das tônicas das entrevistas, que apontam para a trivialidade da vida destas mulheres que encontraram na prostituição uma das alternativas para a sobrevivência.
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